Tuesday, October 17, 2006

Venenosamente, Jane Fonda

Fatima Dannemann

Às quartas-feiras, cinema é mais barato em Salvador. Ir ao cinema neste dia, durante uma voltinha pelos shoppings da cidade, já se tornou programa tradicional. Mas, as ultimas quartas-feiras têm sido especiais. No cinema do shopping Itaigara, um dos mais novos e mais modernos cinemas da cidade, um punhado de mulheres aproveitava a promoção de meio de semana para conferir a volta às telas de uma das últimas das grandes damas do cinema, Jane Fonda, em A Sogra, uma comédia rasgada, engraçada (apesar dos toques piegas e dispensáveis do final do filme) dirigida por Robert Luketic, o mesmo de Legalmente Loira, com roteiro de Anya Kochoff contando ainda com Jennifer Lopez a nora que Jane vai atormentar, vigiar, investigar nos 93 minutos de filme, ou quase isso.
Jane estava afastada há 15 anos do cinema. Mas mostrou que uma vez rainha, sempre majestade. Ela rouba todas as cenas em que aparece apesar de Jennifer ser uma das melhores artistas de sua geração e inegavelmente bonita principalmente porque foge do padrão Barbie. A atriz mostra suas curvas, sua latinidade, seu jeito de vestir com estilo e atitude dispensando griffes, cores e padrões ditados pela mídia ou pelos chiques e dá um charme especial ao filme. Mas, Jane, que praticamente nasceu e cresceu nos sets de filmagem, é simplesmente show de bola, e a curiosidade em torno de sua volta ao cinema acaba sendo o principal toque do filme.
Tão bela quanto em qualquer outra fase de sua carreira (embora o filme não esconda as inevitáveis marcas de seus quase 70 anos). Filha do ator Henri Fonda, irmã de Peter Fonda co-protagonista do mais famoso de todos os road-movies “Easy Rider” (Sem Destino), tia da atriz Bridget Fonda, Jane faz parte de um clã que também já levou mais de um Oscar para casa. Jane ganhou duas vezes na década de 70, em 71, por Klute, e em 78 por Coming Home. Contracenou com seu pai em Num Lago Dourado, o ultimo filme de Henri, e o ultimo Oscar do patriarca recebido por Jane.
Claro que a historia do filme em si, nada traz de novo. É o mesmo blábláblá lido em historinhas de princesas, fotonovelas, novelas de televisão e outras comédias. Mas esta é especial. Alem de Jane que está engraçadíssima e rouba a cena todas as vezes que aparece, tem Jennifer, que está se tornando especialista no gênero das comédias românticas, e o diretor Luketic tem no seu currículo um dos maiores sucessos da comédia moderna Legalmente Loira. Há momentos impagáveis, como o que Viola Field (Jane, a sogra) em sua última aparição na TV antes de ser demitida, quer esganar sua jovem (loira e burra) entrevistada que mal consegue responder a algumas perguntas óbvias.
Ai que o filme começa a esquentar. Antes disso, tudo é xarope. Charlotte (Jennifer), uma artista plástica que não acredita no próprio talento e sobrevive fazendo mil trabalhos temporários, está passeando com cachorros na praia quando conhece Kevin (Michael Vartan) um belo e bem sucedido médico, filho único de Viola, que a essa altura, depois do surto quase psicótico no programa, está internada numa clínica psiquiátrica. É quando ela deixa a clínica e que Kevin vai apresentar Charlotte a Viola que a história esquenta. Em alguns momentos ela lembra Odete Roitman e outras sogras megeras de novela.
Há quem tenha falado mal do filme. Mas, criou-se um “modelo” de que comédia não é “coisa séria”, que rir não é “intelectual” e muito menos “inteligente” e assim os críticos de carteirinha nunca dão o braço a torcer. Preferem se reprimir e se sujeitar a um problema na vesícula do que liberar a gargalhada e desopilar o fígado em situações verdadeiramente estapafúrdias como as que Viola e Charlotte vão criando no filme. Só Kevin fica meio apagado, não aparece em boa parte da história e, é preciso admitir, nem faz muita falta, já que Jane e Jennifer dominam a cena.
Pode ser que Mrs Fonda não ganhe nenhum Oscar com este filme. Mas, com certeza será lembrado com carinho. Que nem Descalços no Parque, uma comedia light e cabeça, que ela estreou em 1967, ao lado de Robert Redford. E é ai que lembramos do que falta no filme: um nome masculino de peso. Alguem Al Pacino ou Jack Nicholson, que já estrelaram comédias românticas com bastante competência conseguissem dar o charme que faltou em Michael Vartan, um Kevin certinho demais e por isso sem graça.

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