Sunday, July 27, 2008

Como a primavera renasce todos os anos...

 

Como a primavera renasce todos os anos

(ou algumas notas sobre a Polônia)

 

Fátima Dannemann

 

          - Ali a esquerda fica a faculdade de comunicação... Ninguém leu errado. Faculdade de comunicação, sim. E melhor: um ponto turístico em Varsóvia, capital da Polônia, país que há 15 anos se libertou do ultimo "grilhão" e vem fazendo uma nova história. Nova, sim, totalmente, porque se tornou um dos raros países europeus onde a população é predominantemente jovem. Pois é. Pouca gente sabe maiores detalhes, mas a Polônia é um país jovem, bonito e alegre apesar das feridas do passado ainda não terem cicatrizado totalmente. A pior delas? A dominação soviética. Há poloneses que se mostram capazes de perdoar os alemães, "porque o mundo estava em guerra e nem todos eram nazistas", mas de não perdoar os russos, "eles ficaram aqui por 40 anos. Mataram mais". Das mazelas, sobraram enormes caixotes cinzas chamados de prédios de apartamentos que vão sendo modernizados pelos moradores. Antes não tinham elevador, nem banheiro, muitos não tinham nem janelas. Agora, alem de tudo isso, ainda ganham cores e jardins. Coisas de uma Polônia que nasce (ou renasce) para o mundo.

             Essa é a maior surpresa que o brasileiro tem quando chega ao país lá no norte da Europa, à beira do Mar do Norte. As tristezas estão ali em forma de museus de horrores como Auschwitz, mas a alegria é maior. Ninguém esquece o passado. Mas, os milhares de estudantes que moram e freqüentam as universidades de Cracóvia são pura alegria ao saírem às ruas vestidos de Branca de Neve e os Sete Anões, sem medo de ser feliz. Nas ruas largas da capital, presença de griffes famosas denunciam que tempos de cafonices e roupas escuras ficaram em algum canto dos livros de história. Guias mostram detalhadamente o castelo do rei Poniatowski, lembranças de uma era muito mais gloriosa em que amantes do rei eram presenteadas com castelos em um parque maravilhosamente verde que em muito lembra os trianons de Versailles, com uma diferença: os reis poloneses amavam o povo, a democracia e a liberdade. Estavam tão à frente de seu tempo, no século XVIII, que a monarquia acabou não dando certo.

                O país ama a liberdade, sempre teve artes e ciências avançadas, uma religiosidade a toda prova e talvez por isso tenha sido escravizado e seu povo sofrido horrores. Na segunda guerra mundial, havia mais de 40 campos de concentração onde morriam não somente judeus, mas poloneses e, já no final da guerra, gente de todo o continente europeu. Auschwitz, Bierkenau, Treblinka, nomes que são mais que dados a serem decorados por estudantes de história. São palcos de terror. Trabalhar como guia em Auschwitz onde ainda se sente cheiro de corpos queimados é tão penoso que as equipes trabalham dois meses e descansam um. No máximo. Do gueto de Varsóvia, onde milhares de pessoas foram trancafiadas dentro de um muro e depois incendiadas, sobrou um memorial com muitas fotos e um monumento.

                Apesar disso, o país não perde o pique e vem se refazendo. Já aderiu à Comunidade Européia, vem fazendo uma série de obras e melhorando toda a infra-estrutura que andou uns 40 anos atrasada (é impossível ligar direto ou a cobrar para o Brasil, entre outros detalhes). Como boa parte da população morreu durante as dominações nazistas e comunistas, o país vem refazendo seu povo que é jovem, bonito, alegre, bem vestido, e criativo e culto como dois de seus maiores expoentes, o compositor Chopin e o astrônomo Nicolau Copérnico, sem falar no mais famoso deles, o papa João Paulo II. Longe das mazelas históricas, os bares e restaurantes, muitos deles com decoração primorosa, fervilham de pessoas que aproveitam o dia que se estende, no verão, até mais tarde. A cozinha é um primor. Em lugares como o I Fuskiero, na Stare Miasto (cidade antiga) de Varsóvia, restaurante visitado por chefes de estado e celebridades do mundo artístico, come-se muito bem e bebe-se melhor ainda, principalmente vodka e cerveja. As especialidades variam entre os Pierogis, espécie de empadinhas cozida, aos Zhurak, sopa que mistura queijo, presunto, batata, gratinada no forno e servida num pão. Sem falar nos doces e sorvetes. A Polônia é uma festa. Depois de uma era de dominações, o pais respira liberdade e transforma tudo isso em juventude e alegria. Uma grata surpresa, como a primavera que volta todos os anos depois dos rigores do inverno...

Saturday, July 26, 2008

crônica - Saudade de outros invernos

 

Fatima Dannemann

 

             O sábado esquenta um julho gelado. Coisa rara numa cidade onde o inverno era morno. Antes, apenas chovia e era tudo. Hoje, faz até dias bonitos mas é mais. As conversas já não giram  sobre o tempo porque o calor ou frio que mais importa hoje são os das emoções. O sol brilha mas já não há esperança no coração das mães que perderam seus filhos entre balas que encontraram corações inocentes. Pipocam chacinas e os homens do poder disfarçam prendendo deliqüentes ricos. E o povo aproveita a lei seca e volta para casa mais cedo. Quem pode aproveita e se tranca em verdadeiras cidadelas fortificadas com equipamentos de lazer a quem a publicidade dá o nome de condomínios fechados mas que é um jeito de se viver um pouco mais – e melhor.

               Cadê os invernos de outros tempos? Mudou tudo. Até a história de romances consagrados que viram novelas nem tão doces em horário água-com-açúcar. Os donos de bares se revoltam contra a lei seca. As mães não precisam dizer "volte para casa mais cedo, meu filho" até porque a noite, depois de certa hora, assusta. Engarrafamentos assombram como se o Coringa do mais novo Batman fosse aparecer e detonar todo mundo ali mesmo. Mas são apenas as obras "congeladas" por quatro anos que voltam na onda da próxima estação. Isso tudo cabe numa manhã de ex-inverno. Mas não é a primavera que se anuncia mais cedo. É o aquecimento global. Mas só o tempo e os ânimos esquentam.

               Dá no noticiário: em tom zangado um hoteleiro do sul do pais reclama da falta de turistas. Não tem frio. Ninguém vai lá. Dá no noticiário: em tom zangado um hoteleiro do norte do país reclama da falta de turista. Não tem praia. Ninguém vai lá. Não tem como ficar no meio: o Rio de Janeiro continua lindo, mas só nas novelas. Fora disso? Apenas uma guerra contra o crime que vai matando criancinhas. Dá no noticiário:  o Presidente viaja e leva a Globo num avião da FAB. Desconserto, desmentido, desmandos e soltam-se os meliantes de gravata por "falta de provas". A guerra está criada. No alvo o Judiciário: e como ter um estado de direito sem juizes livres para fazer cumprir a lei? Ninguém nota. Em cada coração há um guarda policiando pensamentos. Principalmente os alheios. A censura ronda os meios de comunicação como um fantasma. A censura ronda as conversas de "amigos" que fazem ameaças veladas: "cuidado comigo", cacareja uma perua para um desafeto. Pode dar policia. Mas e a justiça?

              Nas sinaleiras pipocam performances de malabaristas e de meliantes. Moças bonitinhas distribuem folhetos que anunciam o paraíso: morar com segurança e sem precisar sair de casa em prédios misto de clubes, escritório, shopping center. Mas e a vida lá fora? Alguém sente falta da imensidão de um deserto onde só há o vazio das dunas, o céu, a lua, muitas estrelas e – raramente – algumas poucas nuvens. E dá no noticiário: um hoteleiro no deserto dessa vez elogia. As pessoas vão para lá porque não tem frio, tem piscina, ah, e tem segurança. Dá para andar nas ruas até de noite. Sem bebidas, mas em terra de lei seca, quem liga?

              E o sábado azul esquenta um julho gelado. Uma brisa morna sopra os maus pensamentos e as más lembranças para um lugar distante chamado esquecimento. Não, não dá para apagar certas marcas da vida. Principalmente com as noticias marteladas na televisão onde hoteleiros – nem satisfeitos, nem zangados – anunciam promoções para o próximo feriado. Mas dá para olhar para frente. E algumas pessoas antecipam o ano novo e pensam no amanhã. Não, não dá para parar. Nem engarrafamentos com medo do coringa. Nem apenas lembrando a vida numa manhã de sábado. O Oriente anda em alta. China, Japão, Vietnã, Tailândia... No roteiro dos turistas, no destino de esportistas, nos concursos de miss. Ou simplesmente porque o sol nasce no Leste. E a vida sempre recomeça. Todas as manhãs.

 

Wednesday, July 16, 2008



Especial Miss Universo: silicone, chapinha e transparências

Mal foi eleita Miss Universo, e a venezuelana Dayana Mendonza já virou alvo de denuncias. Há quem diga que ela se submeteu a pelo menos duas plásticas antes do concurso.

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O Miss U 2008 foi realizado no último domingo no Vietnã e a melhor coisa do concurso - transmitido ao vivo pela Band - foram as imagens do belo país do sudeste asiático, em alta no mercado turistico.

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Na passarela, foram vistas 80 meninas vindas de todas as partes do mundo, muitas delas longe do original de fábrica: silicone, chapinha, tinta no cabelo mostram que elas usam da química e da ciência para ser candidata.

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A brasileira, Natália Anderle, uma morena peituda do Rio Grande do Sul, não gostou nada, mas ela ficou fora das 15 finalistas. Reclamou. Mas, ela nem devia ter sido eleita Miss Brasil pois definitivamente não foi a mais bonita do ano.

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Venezuela e Colômbia nos dois primeiros lugares mostram que o concurso - tanto quanto beleza - visa politica. Esses dois países estiveram em evidência no noticiário internacional nos ultimos meses.

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A colombiana, aliás, era mais bonita e merecia ganhar. Deve ter perdido por conta do vestido de baile horroroso que ela usou. E foram os vestidos que deixaram Miss Mexico e Miss Republica Dominicana entre as cinco primeiras.

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Os vestidos eram horrorosos, mas completamente transparentes e ousados. O da dominicana ainda era mais feio do que a do México. Mas parece que os jurados gostaram do que viram (ou o que pensaram que viram).

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A americana - negra, coincidentemente num ano em que Barack Obama disputa a presidencia - tropeçou, caiu, não perdeu o rebolado, mas perdeu a coroa. Pena, porque ela era bonita, chique e daria uma excelente miss universo.

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O mesmo pode-se dizer da Miss Russia, que usou um vestido branco lindo, clássico, eleganterrimo, mas ficou em quinto lugar (perdeu dos vestidos transparentes, do modelito horrendo da Miss Colombia e do maravilhoso vestido amarelo da vencedora).

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Chose de loc foi o traje típico da Miss Venezuela: tinha uma coisa enfiada no nariz. Feio e vermelho, o traje não influiu, nem contribuiu. No final, ela ganhou de todo mundo mesmo.

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O concurso foi rápido, sem enrolação, entre os jurados o dono do concurso, Donald Trump Junior. Entre um desfile e outro (aliás, modelito de biquine feioso, heim), cenas do Vietnan principalmente dos maravilhosos resorts de luxo do pais.

Thursday, July 10, 2008

comentário - Guerra de Baixarias

 

Guerra de Baixarias

 

Fátima Dannemann

 

            Na busca pela audiência, as novelas têm apelado para todo tipo de baixaria. O pior deles é, e sempre será, embora consentida, a violência. Na recém-lançada Chamas da Vida (de segunda a sábado 21h na Record), já houve desmonte de carros roubados, incêndio criminoso, tentativa de estupro e exploração de crianças de rua entre outros crimes. Isto, nunca sociedade em que meninos como Isabella Nardoni e João Robertos são assassinados covardemente, é exagerado. Já existe até quem ache que falta Deus na sociedade cada vez mais materialista e à mercê de cenas de sangue e tiros até promovidas pela mídia em troca de "audiência".

              Houve um tempo – e recente, aliás – em que o que "chocava" eram cenas de sexo. Chocava e dava Ibope. Um exemplo disso está em reprise no SBT, a novela Pantanal, que deve muito do seu sucesso a cena de gente pelada transando nos rios do Mato Grosso. Mais do que as belezas exóticas dos rios, florestas e animais silvestres, o que chamava atenção eram as cenas de nudez pra lá de calientes entre Juma e Jove e Tadeu e Muda, que podem ser vistas agora por volta das 10 horas numa reprise "não autorizada" pelos "donos" da novela mas que Silvio Santos resolveu arriscar e exibir. Banalizaram o sexo e a violência começou a dominar em todos os horários e quando já se achava que a bazuca de Juvenal Antena ou a guerra dos mutantes de Caminhos do Coração eram o ponto alto, começa A Favorita e Chamas da Vida trazendo ainda mais baixarias para o horário nobre.

              Não se sabe porque, mas caíram de moda novelas bem humoradas como Tieta, Pedra sobre Pedra, A Indomada em que o interior do Brasil era mostrado em situações engraçadas e que, mesmo havendo violência, as cenas mais "fortes" eram amenizadas de alguma maneira. Hoje, acha-se que as novelas (obras de ficção e que, portanto, podem ser inventadas como pura fantasia sem compromisso em retratar nada, muito menos refletir, justamente os piores males da sociedade como corrupção, falsidade, violência e outros crimes) têm que ter "compromisso social".

              Se por um lado elas até fazem um favor a sociedade quando mostram questões como síndrome de down (em Paginas da Vida), crianças roubadas na maternidade, gravidez na adolescência, casamentos interraciais, crescimento de religiões evangélicas, trafico de mulheres e outros problemas, elas exageram e em vez de denunciar acabam enaltecendo outros problemas. Assim, cresce a AIDS em mulheres jovens, cresce o número de vítimas de distúrbios alimentares (claro... para participar de algumas novelas da Globo as artistas se submetem a cirurgias plásticas delicadas e desnecessárias), ninguém mais se aceita ao olhar no espelho, sem falar na verdadeira aula de crimes e falcatruas que bandidos e aspirantes a delinquentes ensinam em tramas desde Malhação (Globo, 17h)  até Amor e Intrigas (Record, 22h)  onde, nos últimos capítulos, um casal de bandidos só conversam sobre o planejamento do sequestro de um ex-namorado rico da vilã

               Realmente, não dá. De um lado, Malhação, Ciranda de Pedra, Beleza Pura e A Favorita, em outro Os Mutantes, Chamas da Vida e Amor e Intrigas que, mesmo com todas as cenas de tentativa de assassinato, assaltos e seqüestros acabou sendo a mais "leve" das três novelas da Record. De quebra, as criancinhas exploradas em Chiquititas e o sexismo de Pantanal. Isso desmente a velha idéia de que são os desenhos animados e vídeo-games que disseminam a violência no mundo. Já chega o noticiário. Ninguém precisa ter indisgestão ao ver tanta baixaria na TV e o pior que o povão não tem acesso a outras diversões por falta de grana. E notem que eu nem falei no desempenho de certas "estrelas" como Débora Secco, fazendo mais uma alpinista social em A Favorita, ou Isis Valverde, que já está exagerada no papel da morena-burra Rakelli em Beleza Pura.

 

 

Sunday, July 06, 2008

Um dia ainda terei uma piscina de bolinhas

Um dia ainda terei uma piscina de bolinhas
 
por Fatima Dannemann

Se algum dia eu ficar milionária e puder me dar ao luxo de, ao mesmo tempo ser excêntrica e considerada chique, podem escrever: vou construir uma piscina de bolinhas em minha casa.
Uma das minhas frustrações. Nunca nadei numa piscina de bolinhas. Já tomei banho de mar, de rio, de cachoeira, em corredeiras, em lago (er, eu tentei... mas as aguas do Loch Lomond eram geladas), de banheira, de espuma. Mas, de bolinha naquelas piscininhas de festinha infantil e de parquinho do Mc Donalds, nunca.
Bom, nós, que somos um pouquinho mais velhos que os pirralhos costumamos dizer que nossa infancia foi melhor. Por exemplo: podia entrar no cine Rio Vermelho dizendo o ingresso está lá atrás e não pagar nada, gritar tá na horaaaaaaa quando o filme atrasava, e meu dinheirooooooo quando o filme quebrava. A geração multiplex não pode nem ficar no cinema a tarde toda e assistir ao mesmo filme trocentas vezes, os fiscais não deixam, e haja fiscal.
Ainda tem a pipoca: carésima, com gosto de isopor daquelas que só pode ser vendida num pacote que vendem uma coca cola pet acondicionada num copo de papelão dificilimo de carregar. As garrafas de vidro eram quebráveis mas eram até mais ecológicas, pois ia tudo pro engradado e não ficava aquele bando de copos e porqueiras espalhados no chão.
Mas, a pirralhada de hoje tem coisa melhor sim: cinema 3D, piscina de bolinhas, video game, e aquelas lojas de bombons toda transadinhas que vendem aqueles pirulitos enormes enfeitadinhos...
Bom, vamos esquecer os multiplex e os cinemas poeiras. Vamos pensar nas coisas boas como o conselho dos psicologos de manter viva a criança interior...
Com licença, enquanto não viro milionária excentrica (e chiquérrima), enquanto não tenho minha própria piscina de bolinhas, com licença: tou indo a lojinha comprar meus pirulitos.
(publicada em 2001 no site nightbahia)