Fatima Dannemann
Helena nunca foi “mocinha-familia”. Modelo, viajada, chegou a abortar para abocanhar um contrato. Conheceu Marcos, foi direto pro rala e rola. Casou não convenceu nem a si mesma como dona de casa. Foi pra Jordânia, implicou com Luciana que acabou tetraplégica porque a ma-drasta não queria a enteada no mesmo carro que ela. Voltou, nunca se importou com sogra, enteadas nem com os amigos do marido, cai de charme quando encontra Bruno. Então, aquele medo absurdo que Helena sente ao ver Rafaela, a insuportável garotinha filha de Dora a amiga traira que ela abrigou em casa, não convence ninguém. Nem Helena com caras, bocas, gritos. Aliás, nem a novela Viver a Vida convence ninguém. Salvam-se o drama de Luciana com a paralisia e as tentativas de superação.
Nem é preciso falar da interpretação de Tais Araújo que passa boa parte do tempo chorando (sem borrar maquiagem, diga-se de passagem), berrando (o tom de voz da moça é estridente) ou fazendo bicos. Helena não convenceu, não tem bala na agulha pra sustentar uma novela. Se não fossem os personagens secundários, Viver a vida poderia se chamar Páginas em branco. Vida de modelo ou ex-modelo já foi retratada melhor até em novela das sete. Médicos que passam mais tempo na cantina do hospital. Uma “devoradora de homens” que só “pegou” até o momento o namorado de Clarisse, a personagem de Cecília Dassi, aliás, uma grande jovem atriz que está sendo relegada ao ultimo dos planos nesse folhetim.
Dá saudade de Caminho das Índias com Maya, Raj, Komal, o pessoal da Lapa, Norminha, Abel, Tarso. Havia historia no Caminho das Índias. E histórias das boas. Intensas cheias de elementos que deixam os espectadores com vontade de saber mais. Até os dramas de Luciana se arrastam: ela dispensou o gêmeo-chato, Jorge e até hoje não se declarou ao gêmeo-legal, Miguel. E podem ler nos resumos dos próximos capítulos do site da Globo: até março, tudo que vamos ver será um reme-reme que não vai dar em nada. Pior, nem a escandalosa Renata, que está caracterizada como um clone de Amy Winehouse bastante piorado, deu escândalo. Nem vai dar. Ela já encontrou Felipe pra conter seus revertérios e por conta disso o ex-aventureiro se transformou em modelo fotográfico. Muito simples. O que até poderia resultar em eventos interessantes acaba devidamente sufocado pelo clichê dos estúdios. Se o Rio não fosse uma cidade de beleza impar, e alem disso cheia de opções para divertir, praticar esportes radicais ou não, daria para acreditar que Felipe e Bruno resolveram se render as facilidades e deixar de lado a vida de aventura. Ah, e que novela de modelos é essa que não há desfiles só uma foto ou outra?
Outros detalhes são que Manoel Carlos não repete apenas o nome de sua protagonista, mas repete também nomes de outros personagens. Havia um Jorge em Páginas da Vida. Na mesma novela também tinha uma Alice, um Leandro e uma Lívia. Camila Pitanga também se chamava Luciana em Mulheres Apaixonadas. E de novo havia um Leandro. Em Laços de Família, Tony Ramos foi Miguel, Lilia Cabral foi Ingrid. Em Baila Comigo, os personagens principais eram gêmeos. Médicos aparecem em quase todas as tramas do autor. Nas três últimas novelas, muitas cenas aconteceram em hospital e mais: já deu pra notar que bastou uma “maquiagem” para transformar o hospital de Páginas da Vida no local de trabalho de Miguel, Ariane, Ricardo e Ellen. Certo: médicos e hospitais sempre rendem histórias. Mas, em três novelas seguidas há um toque de falta de imaginação. Isto, entretanto, é apenas um detalhe. Pior foi o drama de Sandrinha, irmã de Helena, casada com bandido e morando na favela, cair no esquecimento. Talvez a culpa seja dos atores que nem dão o toque de drama necessário. Seja como for, Páginas em Brancos, oops, er... Viver a Vida, passa do meio ao fim sem dizer a que veio. Ainda bem que só faltam uns dois meses...
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment