Saturday, September 04, 2010

Parada no tempo, Florença morreu e não sabe



Fatima Dannemann

Não sei o que eu vi em Florença na primeira vez que estive lá. Nesta segunda vez na principal cidade da Toscana, que a Globo andou mostrando nos primeiros capítulos da novela das nove, Passione, minha reação foi de decepção e perplexidade. Não com as obras de arte, que são maravilhosas, não com o rio Arno que corre sereno sob as pontes, mas com o povo, que deve ter herdado dos Medici (que nunca foram flor que se cheire e a historia prova isso)arrogância, racismo, falsa superioridade e uma tremenda grosseria.
Sim, quem visita Florença deve se ater somente às obras de arte e esquecer que ali nas casas, lojas, ruas e até na Ponte Vecchio moram, trabalham e passeiam seres humanos. A antipatia e o esnobismo estão presentes até nos guias locais de turismo que vira e mexe, quando encontram camelôe, porteiros de museu, e outros guias, não poupam o veneno e debocham das pessoas que estão ali afim de novidades, fotos e se deliciam com detalhes da catedral ou as estatuas das praças da cidade.
No café da manhã, quem for sul-americano e viajar em grupo se prepare para ser discriminado. Não tente ir para o salão principal, pois será sumariamente posto para fora por um garçon deselegante que vai dizer "grupo é lá em cima". O café dos grupos será sempre num salão secundário, sujo, onde pairam sobras na mesa. E nem reclame, garçons e garçonetes são arrogantes e lhe tratarão como se eles fossem os Medici e você um reles escravo.
Pior é que a cidade nem é tão bonita como eu me lembrava. Suas ruas são escuras. No centro, faz calor porque os becos são estreitos, não há arvores e poucas sombras. Para comer, poucas opções. Os moradores de Pisa detestam Florença e seus habitantes e eu vi porque. A maldade dos Medici ficou em Florença (apesar da beleza das obras de arte). Depois de um "passeio" pela cidade mais falso do que nota de tres dólares, minha impressão é a de que Florença parou no Renascimento, morreu e não sabe. Melhor dar um giro en passant e seguir viagem. Menores, mas mais acolhedoras, Siena e San Gimignano dão de goleada em tudo: até na simpatia.

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