Pai também ama
Fatima Dannemann
Dizem os versos que “ser mãe é padecer no paraíso”. E ser pai? Onde os pais padecem? Sufocados por “ordens mudas” como a de que homem não chora, muitos morrem cedo, de infarto, por serem obrigados a sufocar a emoção. Pai que é pai, reza a cartilha dos ditames sociais, é o que paga as contas, o que dá as ordens na casa, é aquele a quem se devem todas as honras e todas os atos. Algo cerimonial e distante. Um ser quase inumano de quem se deve respeitar e temer. Não concordo com nada disso.
Claro, há pais ausentes. Mas há mães ausentes, também. Há os pais que abandonam os filhos, mas há mães, que ainda na maternidade, saem para comprar cigarro e esquecem os filhos no primeiro saco de lixo. Então não há porque ditar regras como a de sempre amar as mães e apenas respeitar os pais. Que seja feita justiça, cinqüenta por cento de amor aos dois, porque a mãe jamais carregaria um filho na barriga nove meses se o pai não fizesse a sua parte no trato divino (ou cientifico?) da concepção humana. Elas por elas, cada qual é importante em sua presença e em sua ausência embora cada vez mais pais e mães tem que fazer papel de pais e mães ao mesmo tempo numa só família. As emoções podem ser diferentes, mas pai e mãe têm o mesmo sentimento – de amor (ou indiferença, pois infelizmente isso existe) – pelos filhos.
Ser pai ou ser mãe – dá no mesmo – é principalmente amar e respeitar os filhos. É lembrar que colocar uma criança no mundo não torna este novo ser humano uma propriedade sua. Ele pode contribuir com exemplos, com atitudes, com amor, para que o filho crie aspirações sempre elevadas, mas deve respeitar o filho não só como um pedaço de si mesmo, mas como um novo alguém que um dia, lá no futuro, seguirá seus próprios caminhos. Os pais (ambos, claro, pai e mãe) são os primeiros mestres, mas eles não vão poder abrir a estrada e levar o filho no colo por todo caminho. Basta apontar as prováveis direções, falar sobre os riscos na estrada, sobre como paisagens bonitas as vezes escondem penhascos traiçoeiros, nunca proibir demais nem permitir de menos, e nunca permitir tudo e não proibir nada. Mas equilibrando, pois a lei do equilíbrio é uma das normas que põem ordem em todo o universo.
Pai. Como mãe, três letras e apenas uma sílaba na palavra em português. Um ser que remete ao divino, simplesmente porque o nome Pai, lembra Deus. Mas o pai terreno é um ser humano. Alguém que sente, sofre, ama, chora, se emociona, tem tristezas, alegrias, e é obrigado, em nome das responsabilidades materiais, sufocar tudo isto. E ao arcar com toda a família, pouco sobra tempo para conviver com os filhos.
Thursday, May 31, 2007
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