Tuesday, September 30, 2008

Restaurantes de Salvador

by Fatima Dannemann

 

 Aos pés do Plano, com charme francês

 

            Quem quiser comer uma boa comida, com charme e pagando um bom preço, o endereço é no Comércio, perto do Plano Inclinado, tem pelo menos três décadas de tradição mas está de cara e direção novas. Trata-se do Bistroquet, freqüentado não somente por quem trabalha no Comércio como por quem mora ou trabalha em outros bairros e vai até lá só para almoçar. O restaurante abre apenas de segunda a sexta-feira para o almoço e é bastante concorrido. O serviço é ágil, os pratos alem de saborosos são bem apresentados. O item mais caro custa pouco mais de R$20. Um dos hits do cardápio de notas francesas e seguindo a linha moderna de poucos e bons itens são os bolinhos de aimpim.

 

Yes, nossos restaurantes têm banana

 

             Para acompanhar peixes e outros grelhados um novo hit tem surgido nas mesas dos restaurantes baianos como o Lafayette e o Baby Beef. O purê de banana. Feito com banana da terra (no restaurante da Marina) ou com banana d'água (no restaurante do Hiper Bom Preço), o purê de banana dá um toque exótico especialmente aos peixes como Robalo e Agulhão Negro e no Lafayette é servido em uma minipanelinha que dá um charme a mais ao quitute. Vale conferir.

 

Cone de sushi, nova mania nacional

 

              Temakeria – assim mesmo com k. Esse é a nova moda quando se fala em culinária japonesa. Pela cidade pipocam temakerias que aos poucos vão tomando lugar dos antigos sushi-bares e até dos restaurantes chineses muitos dos quais se tornaram "híbridos" e servem pratos japoneses, tailandeses e até vietnamitas. Mas, muita gente andou perguntando o que seria temaki. Resposta facílima: um sushi em forma de cone (ou um cone de sushi, como preferirem). Para quem quiser descobrir, num restaurante oriental da Barra há um desenho do temaki e mais: um bar oriental do Rio Vermelho chama-se justamente cone, com K.

 

Dos doces às refeições

 

              Famosa pelos doces, salgados e tortas – já tendo sida indicada pela Veja Salvador diversas vezes, a Doces Sonhos cresceu, tem hoje três lojas na cidade e até ganhou uma versão gourmet que tem restaurante além de doces. Trata-se da loja da Avenida Paulo VI, perto do fim de linha de Pituba, que está em outro endereço e foi totalmente reformulada ganhando o conceito de gourmet com pratos leves e tão saborosos como os demais produtos. Mas, nada é perfeito e a Doce Sonhos tem dois defeitos: o preço, especialmente dos doces e salgados (R$2,50 um salgadinho tamanho quase amostra grátis) e o atendimento: algumas vendedoras privilegiam peruas e dondocas em detrimento a outros fregueses, sem falar no tradicional jogo de empurra "atenda ai, fulana". Não dá.

Saturday, September 27, 2008

A FESTA DO FEITIÇO

 Fatima Dannemann

 

              A bela adormecida já dormia há anos. Muita gente já nem se lembrava mais dela e a bruxa Malévola, autora da façanha resolveu dar uma festa para comemorar os 25 anos de sonhos da princesa. Claro, ninguém é de ferro, e como até o príncipe ir beijá-la ainda seria preciso esperar mais 75 anos, a fada má resolveu dar uma festinha para lembrar seu único feitiço que deu certo.

             Aliás, o único feitiço que ela fez na vida. Malévola nem era tão má como dizia seu nome. Era apenas intriga das três fadinhas, Fauna, Flora e Primavera, que tinham inveja do visual fashion da bruxa que foi de queixão ao batizado da princesa Aurora, e na falta de um presente melhor conjurou um feitiço ali mesmo.

             E funcionou. Deus sabe como. A bruxa até tinha esquecido da praga que jogou quando Aurora, mais curiosa do que nunca, resolveu futucar a roca de fiar e espetou o dedo no fuso e dormiu. Dizem que nem foi o feitiço. Há quem diga que a princesa desmaiou com a dor, e que o pessoal do castelo, mais superticioso que beato de igreja matriz, não foi acodir com medo da bruxa.

              Malevola viajou para as Bahamas antes do aniversário da princesa e só soube que o feitiço deu certo acessando a Internet... Epaa... Não tinha Internet no tempo da Bela Adormecida. Mas, bruxa que é bruxa é antenada, ou melhor, vassourada e caldeirãozada, e sabe de todos os fuxicos. Até a cor da cueca do marido de Cinderela na noite da lua de mel a bruxa sabia. E olhe que este é um detalhe insignificante.

                 Como não tiha o que fazer no reino de Aurora, ela foi ficando nas Bahamas, foi ser provadora de whisky na Escócia, vendedora de bumerangue na Austrália, esticou até o Tahiti e viu que se passaram 25 anos desde que a princesa dormiu. Voltou ao reino para ver o que tinha acontecido. Nadica de Nada. Ninguém beijava a princesa para quebrar o feitiço alegando o mau hálito que a princesa deveria ter depois de ficar sem escovar os dentes tanto tempo, e a inhaca de gambá por não tomar banho, nem trocar lençol, camisola, fronha, e etc.

                  A festa seria no castelo, na ala destinada a bruxas, plebeus e casos não esclarecidos a serem estudados. Na lista de convidados, o que há de mais fashion no mundo do faz de conta como os estilistas que desenharam o vestido de baile de cinderela e o designer da casa de chocolate de João e Maria. Os músicos de Bremen e o flautista de Hamelin animaram a festa com muito rock and roll. Mas, o barulho foi tanto que a princesa acordou antes mesmo do beijo do principe. No que ela desceu perguntando "quem sou eu?" naquela amnésia pós-sono prolongado, toda descabelada, todo mundo se assombrou pensando que era fantasma e até hoje tem caquinho de bruxa, designer e estilista em fuga pelos quatro cantos do reino.



Quase uma aventura

 

 

 Fatima Dannemann 

 

               Eles se conheceram na Internet. Numa sala de chat. Ambos  casados, morando em cidades distantes. Conversavam amenidades como  "hoje amanheceu chovendo" ou "trabalhei demais e estou exausto". Das  amenidades às intimidades foi apenas uma questão de dias. Papo vai, papo vem, começaram a trocar impressões sobre suas vidas.
Falaram de seus sonhos, planos até que um dia aconteceu o inevitável. A mãe dela adoeceu e ela precisou viajar exatamente para a cidade onde ele morava. Marcaram para se conhecer. Dois seres humanos que nunca se viram antes se encontrando num bar do centro da cidade. Foi quando ele, alto e magrelo, meio careca, de óculos, que por um golpe do destino casou-se com uma dessas mulheres tão bonitas que merecem capa de revista, conferiu a sua amiga, baixinha, gordinha, de aparelho nos dentes, que se dizia bem casada com um empresário bem sucedido.
 Por incrível que pareça, a conversa fluiu fácil. Ele falava demais, ela era boa ouvinte. dessas pessoas que têm sempre um  conselho na ponta da língua, uma palavra de apoio sempre pronta.  Alguém que sabe sorrir na hora certa. Das conversas sobre suas vidas, surgiu o clima de romance. Primeiro um beijo, depois outro, e mais  outro. E aconteceu o inevitável. Pularam-se não somente cercas como quebraram-se todos os muros. A esposa bonita e o marido empresário ficaram no ignora.Foi um caso de amor de duas semanas, talvez um pouco mais, que afetou pouco a cabeça da moça, que logo voltou para sua cidade, mas deixou o rapaz totalmente pirado.
     Nas semanas seguintes, ele chorou suas mágoas nas mesas dos bares. Pensou em largar a mulher, os filhos, o trabalho e se mandar de mala e cuia para encontrar a moça gordinha e de aparelho nos dentes e viver uma nova vida. Foi até motivo de gozação entre os amigos por causa das lágrimas que derramou copiosamente entre uma cerveja e outra. Eles ainda conversaram pelo telefone, pelo icq, nos chats da internet. Mas, tempo e distância são cruéis para quem diz que ama. De repente, foi como se um vento de inverno congelasse os sentimentos cálidos como uma brisa de verão. Na falta da moça de aparelho, o rapaz de óculos voltou à sua vida normal. Descobriu novos 
encantos na esposa que foi poupada de sofrimento e nunca soube de nada sequer por amigas fofoqueiras. Desistiu de separar e voltou a ser o marido apaixonado de antes. Nunca mais soube da moça gordinha que ria nas horas certas. E tudo foi embora com o verão. Somente um interlúdio passageiro. Quase uma aventura. Mas, certamente, um sonho.

PS: essa história é ficticia

 

Tuesday, September 23, 2008

Ilha de fantasia

De repente, deu vontade de voltar a escrever sobre a Tunisia. Foram muitas imagens. Algumas, intraduziveis. Outras assim, como essa da foto: uma fantasia para os olhos.

Essa profusão de mar e céu azul - lindos por sinal - é Djerba, uma ilha mágica. Dizem que Ulisses esteve por lá nas aventuras contadas na Odisseia. Foi lá que ele teria encontrado as sereias que, longe de serem bonitas, eram seres monstruosos que atraiam os marinheiros com a voz.

Seja como for, Djerba ainda atrai navegantes, traseuntes, turistas. É uma ilha que mistura o ecossistema do deserto (com tamareiras, oasis, etc) com o Mediterraneo. Tem longas praias de águas muito tranquilas e muito azuis e um aqueduto construido pelos romanos que traz agua dos Montes Atlas até lá. Hoje, pode não haver sereias por lá. Mas há ceramistas fazendo trabalhos belíssimos (e baratos), boa comida com frutos do mar, resorts internacionais, souks diversos e povos bérberes que ainda mantém tradições antigas.

Notas sobre os dias antes e depois do equinócio

Fatima Dannemann

 

           Para quem não sabe, o equinócio é a mudança do inverno para a primavera ou do verão para o outono. As outras duas mudanças são os solstícios. Seja como for, bastou chegar o equinócio e parou de chover.

 

            Nesta estação, o acontecimento do ano são as eleições municipais. Em Salvador são cinco candidatos protagonizando um festival de promessas fantasiosas entremeados com ataques e baixarias de lado a lado.

 

            O candidato que corre por fora, Hilton 50, como vem sendo chamado nas esquinas da cidade, já ganhou Ibope: seu jingle é o toque de celular mais baixado, pasmem!!!, entre patricinhas e mauricinhos, justamente a classe que o PSol quer combater.

 

            Alguns candidatos tem falado mal do PDDU, obras na Paralela e Orla. Mas é de se pensar: e deixar como está? E se tudo virar uma imensa favela que será da Bahia? Os turistas vão passar o carnaval em que lugar do mundo? Melhor equacionar.

 

            Nunca se construiu tanto em Salvador: com isso, empregos tem sido gerados em todos os níveis, diretos ou indiretos. Aliás, têm sobrado concursos públicos, também é só conferir os jornais especializados.

 

             Filmes da temporada: Batman, o Cavaleiro das Trevas é tão bom que os americanos cogitam relançar mais perto da votação do Oscar. Uma estratégia para refrescar a memória dos membros da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas.

 

             Não vá ao Baby Beef dia de sexta-feira. O restaurante lota, os garçons se atrapalham  e o caos impera. Aliás, nada mais out do que comer fora dia de sexta-feira. Todo mundo tem a mesma idéia. Os in e os pólo petroquímico. Haja.

 

             Subiu tudo na feira. Quiabo, amendoim, gengibre, dendê, castanha, camarão seco, vá lá: é o dia de São Cosme que chega. Mas no rastro subiram os preços do alface, tangerina, brócolis, pimentão e mais um monte de coisas alheias as tradições baianas.

 

             As manifestações pela liberdade religiosa em Salvador e no Rio mobilizaram centenas de pessoas. Com toda razão: não vamos nunca deixar acontecer no Brasil o que acontece em outras partes do mundo. Que cada um acredite no que for melhor para si e para a humanidade.

 

            A Favorita: ridículo é ver Halley (Cauã Raymond), golpista e com caráter duvidoso como Dodi e Flora, ser filho de Donatela enquanto Lara, doce, meiga e parecida com a avó, ser filha dos dois vilões da novela Isso agride a inteligência do espectador.

 

           Outra coisa: Juliana Silveira está tão fraca como protagonista de Chamas da Vida (Record) que se ela não aparece no capítulo da novela, ninguém sente sua falta. Pior que a vilã (como é o nome da atriz?) Ivonete é uma interprete pior ainda e não consegue roubar a cena.

        Atenção Rede Globo: que tal acabar com Malhação e colocar outro programa no lugar no ano que vem? Ninguém agüenta mais, mas a rede carioca parece que não liga para o que os espectadores pensam.

         

Tuesday, September 16, 2008

Capela do século XVIII, de propriedade da Petrobras, é tombada pelo IPAC

 

A capela de Santo Antônio de Mataripe, construída em meados do século XVIII e localizada no município de São Francisco do Conde, na região do Recôncavo baiano, onde se deu assentamentos de importantes construções e engenhos de cana-de-açucar, desde o século XVI, está agora protegida, legalmente, pelo poder público estadual.

O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), autarquia da secretaria estadual de Cultura, iniciou neste mês (julho, 2008) processo de tombamento do imóvel. A ação foi iniciada, em 1998, pelo órgão federal Iphan, mas, arquivada por seu conselho consultivo que alegou ausência de verba para continuidade.

Em junho deste ano (2008), dez anos depois, o Iphan solicitou que o Estado passasse a se responsabilizar pelo processo, o que fez com que a Gerência de Pesquisa e Legislação de Patrimônio Material e Imaterial do IPAC, retomasse as pesquisas. Já no último dia 8 deste mês (julho, 2008) o IPAC entregou a notificação de tombamento provisório ao Gerente Geral da Unidade de Negócio da Refinaria Landulpho Alves, unidade da Petrobras, localizada no distrito de Mataripe, e atual proprietária da capela.

História do Recôncavo baiano - De acordo com o diretor geral do IPAC, arquiteto Frederico Mendonça, a importância histórica e arquitetônica da capela é inquestionável. "A notificação de tombamento já garante a salvaguarda imediata desse imóvel", explica Mendonça. Embora a capela se encontre, hoje, em ruína eminente, o início de tombamento faz com que o imóvel passe a ser protegido pelas legislações estaduais e federais. "Apesar da devastação ocorrida os últimos anos, ainda restam elementos que não devem ser esquecidos", relata o diretor do IPAC.

Com 409 metros quadrados de área edificada, a capela  foi construída nas terras do antigo Engenho Mataripe, de propriedade original da família Moniz Barreto de Aragão e Meneses. O acesso ao monumento se faz através da estrada que liga as cidades de Candeias e Madre de Deus. Típica capela de engenho, construída em meados do século XVIII, em ponto mais elevado que a antiga casa-grande e fábrica, já desaparecidas, a construção tem, contudo, em sua planta-baixa, características das igrejas matrizes interioranas do final do século XVII. Em 1873, seu altar original, em estilo barroco, foi substituído por um neoclássico, ao gosto da época.

A capela tem dois andares, é feita de pedra e tijolos, com telhas de canal e piso em mármore branco e cinza. Nas lápides funerárias, de grande valor histórico, há nove enterramentos dos membros dos Monizes de Aragão, personagens da história do Recôncavo e da Bahia. Na fachada, encontram-se um frontão em espiral, uma porta em cantaria e cinco janelas de guilhotinas. No interior do imóvel, o destaque fica por conta das imagens de Nossa Senhora da Conceição, São José e Ascenção do Senhor, e o lavabo com o golfinho, datado de 1873. As torres são do final do século XIX, com terminação piramidal remetendo arquitetura gótica da Idade Média.

São Francisco do Conde – O município baiano de São Francisco do Conde detém cerca de 267 quilômetros quadrados e pertenceu à Salvador até 1697, quando foi emancipado tornando-se o 3º município brasileiro com maior PIB per Capita, graças à economia atual baseada na exploração e refino de petróleo. Limita-se com os municípios de Santo Amaro, São Sebastião do Passé, Candeias, Salvador e as águas da Baía de Todos os Santos. A ocupação da região data do século XVI.

Assessoria de Comunicação – IPAC – 25.07.2008 – sexta-feira

Jornalista responsável: Geraldo Moniz (1498-MTBa) – (71) 8732-0220 -
Tel. ASCOM/IPAC: (71) 3116-6673, 3117-6490, ascom@ipac.ba.gov.br - Texto: ASCOM/IPAC

 

Sunday, September 14, 2008

Cinema e DVD: Um musical, um heroi, intrigas palacianas e - de quebra - uma princesa

Fatima Dannemann
   
        Primeiro, o musical. Gênero que anda pouco explorado nos últimos anos. Música mesmo? Só em desenhos animados ou filmes infantis e olhe lá. A diretora inglesa Phyllida Lloyd resolveu levar para as telas o sucesso dos palcos e Mamma Mia, com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Colin Firth, Julie Walters, Rachel McDowall, Christine Baranski e - supresa absoluta - Amanda Seyfried, bonita, afinada e mandando bem como a co-protagonista Sophie. O filme é leve, engraçado, romântico, tem ótimas coreografias e músicas deliciosamente nostálgicas do grupo sueco ABBA (entre as quais Dancing Queen e Chiquitita). Completando o clima, o belo cenário do Mediterrâneo, como sempre deslumbrante. A história é simples, prestes a casar, Sophie envia convites para seus três possiveis pais: Sam, Bill e Harry. Os três resolvem voltar à ilha e à mulher por quem se apaixonaram vinte anos atrás. Quando chegam, a mãe de Sophie, Donna, se surpreende ao ficar cara-a-cara com os ex-namorados que nunca conseguiu esquecer. E, enquanto eles inventam desculpas por estar ali, ela se pergunta qual deles é, realmente, o pai de Sophie. Entrou em cartaz esta semana em Salvador e merece ser visto.
 
            ***
 
          Na escolha das esposas ou mesmo namoradas de um rei, há mais de intrigas do que de amor. Isto fica claro em A Outra, de Justin Chadwick, que conta o envolvimento das duas irmãs Bolena, Ana, a famosa segunda esposa de Henrique VIII decapitada por uma suposta traição e sua irmã Mary, amante do rei (e segundo dados históricos mãe de tres supostos filhos bastardos) e das tramas do Duque de Norfolk (também parente da quinta esposa do rei, Catharina Howard, destronada e executada quase da mesma maneira que Ana Boleyn). Natalie Portman é Ana e Scarlett Johansson é Mary convencidas a aceitar o afeto do rei em troca de favores como maior poder e fortuna para sua familia.  Inicialmente, Maria ganha o amor do Rei Henrique (Eric Bana) e se torna sua amante, dando-lhe um filho ilegítimo. Mas Ana, esperta, traiçoeira e destemida, desbanca sua irmã e a esposa de Henrique, a Rainha Catarina de Aragão, em sua perseguição incessante ao rei. O filme é bem feito, prende a atenção do começo ao fim e a reconstituição de época é preciosa nos detalhes. Vale conferir.
 
         ***
       
       Heroi ou anti-heroi? Vivendo nas sombras entre seres da noite, carregando muito de amargura e algo de ódio. Assim é o Batman das graphic-novels. Batman, o Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan, com Bob Kane entre seus roteiristas é um dos filmes do homem-morcego que melhor captou essa essencia. Além de todos os trunfos vale conferir o último trabalho do ator Heath Ledger, que se suicidou logo após as filmagens. Christian Bale é Batman que nesse filme enfrenta um Coringa mais do que nunca ensandecido e assassinando inocentes sem qualquer traço de compaixão ou humanidade. Outros personagens se cruzam como o Tenente Jim Gordon (Gary Oldman) aliado de Batman, o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart). Dois outros nomes famosos estão no filme: Michael Caine, como Alfred, o mordomo de Bruce Wayne, e Morgan Freeman, como Lucius Fox, que cria as engenhocas que Batman usa na luta contra o crime. Vale conferir. A única ressalva é justamente o Coringa. O ator estaria melhor se não tentasse imitar o psicopata doido do velho Laranja Mecanica. Impossivel não notar a semelhança.
 
         ***
 
       Finalmente uma dica para quem prefere ficar em casa e ver filmes em DVD: Encantada. Sim, o filme é de criança. Não, você não tem crianças em casa. Mas o que é que tem? A história mistura desenho animado, efeitos especiais, comédia romântica, musical e é ótimo. Tem sequências antológicas como a princesa cantando em pleno Central Park ou arrumando um apartamento em Manhattan com a ajuda de pombos, ratazanas e baratas. Maluquice? Não... Apenas fantasia, o que falta no dia a dia e que filmes como esse pode acrescentar. Uma princesa é banida do reino e da idade média pela rainha malvada e acaba em Nova York dos dias atuais onde é encontrada por um advogado que se apaixona por ela. Amy Adams é Giselle a princesa, Patrick Dempsey o advogado. Pra completar, o príncipe (James Marsden) vem salvar a mocinha e a rainha (Susan Sarandon) vem atrapalhar a festa e tudo acaba de forma surpreendente. Veja, mesmo que seja escondido para seus amigos "cabeça" não lhe criticarem.

Thursday, September 04, 2008

A culpa foi da capivara

 

 

Fatima Dannemann

 

            Não, o dia não prometia ser dos melhores. Um vento forte soprava vindo do mar. A chuva caia fina entre os raios de sol que a nuvem escondia. Nos corações, tremulava uma bandeira verde-amarelo. E vestiu-se a camisa canarinho pela última vez naquela Copa. Os pulsos tremiam, a garganta prendia um grito que não vinha. O Hino Nacional passou batido enquanto alguém cantarolava A Marselhesa. E noventa fatais minutos depois pulso acelerado e grito sufocaram  transformaram-se num choro quase convulsivo. Era o Brasil dando adeus a sua maior alegria. Era a seleção de estrelas deixando o gramado e tirando do povo a alegria que ainda lhe restava, o futebol, pois a outra, o Carnaval, há muito lhe tiraram.

             Não, o dia não foi dos melhores. E a essa altura parecia um pesadelo. Enquanto o vento uivava como em filmes de terror e a chuva açoitava os vidros das janelas, a festa acabava melancólica. Parreira não deu frutos, ninguém ergueu a taça dessa vez. O clima esquentou e alguém dizia "a culpa foi sua por não gostar de Ronaldo". Culpa... Porque o ser humano sempre insiste em culpar alguém por tudo e por nada? Parreira não escalou Cicinho, Cafu estava ruim. "Ah, Roberto Carlos, está tudo terminado entre nós. Não sou mais sua fã". Um choque. Onde estava o time que goleou Gana? O que brilhou contra o Japão? Cadê a galera de 2002? E Robinha que não pedalava? Nem Dida fez milagre e tome bola francesa no fundo da rede. De quem foi a culpa, Ronaldinho?"

             Não, o dia foi simplesmente chato. Um daqueles sábados de chuva e jogo da Copa em que nem cinema funciona. "OK, você venceu, de manhã estava a maior animação na cidade". Ninguém nega. Caixas da padaria da esquina contavam os minutos para ir pra casa. No marcadinho do outro lado da rua, os funcionários vestiam verde e amarelo e prometiam tomar todas. "E a final, gente, vai ser a maior alegria". Só se for para franceses, alemães, italianos ou portugueses, quem sobrar para erguer o troféu e perenizar sua imagem no tempo e no espaço levando alegria para outros povos, gente que talvez nem ligue para futebol.

              Para o brasileiro... "Bom, nenhum político vai usar a Copa para ganhar a eleição". Pelo menos. "Tem o final de Belíssima, essa semana, acho que o criminoso é Bia mesmo e pronto". Grandes coisas. "Ah, quem sabe agora os ladrões do mensalão e do valerioduto vão presos". Vão sonhando com algo mais difícil do que o hexa. E as conversas rolam sobre a mesa onde as garrafas de licor de genipapo repousam intacta (e quem seria bobo de tomar uma a essa altura do campeonato?). "Esquisito, mas o Brasil não jogou nada". "Pô, Parreira é uma mula, que cara teimoso". "E aqueles abraços no Zidane, heim? Que esquisito". "Xi, será que rolou grana?". Mães explicam aos filhos pequenos que choram "esporte é assim, um dia a gente ganha. Mas não se pode ganhar sempre".

               Alguém lá na Alemanha soube como acabar com a alegria do povo brasileiro. Um povo sofrido que convive com problemas eternamente insolúveis: fome, desemprego, saúde, educação, a corrpução do governo. Para descarregar, Carnaval, que as elites transformaram em festa cheia de frescura e inacessíveis à maioria da população e futebol, com times deixando o povo furioso em muitos momentos. E a Copa... O destino do país entregue a onze pares de pés. Alguém finalmente descobre de quem foi a culpa: de uma capivara de pelúcia. "Você esqueceu de pegar a capivara, ta vendo ai? O Brasil perdeu". O jeito agora é guardar a Capivara para 2010. Ai, quem sabe... Afinal, o mundo dá voltas.

 

Julho de 2006

Selva de prateleiras

 

 

Fatima Dannemann

 

Filósofos, sociólogos, psicólogos, geralmente imersos em suas faculdades e academias, estão perdendo um grande laboratório de todas as perversões e idiossincrasias humanas. Não. Não é o submundo. Pelo contrário, é o lugar considerado mais família da face da terra: o supermercado. Sim, o supermercado em todas as suas versões. Desde os megamercados ao mercadinho da esquina passando por sua versão luxo: as delicatessen. Simples: some um governo desonesto que penaliza as pessoas com preços altos, um dia chuvoso sem opções de lazer, o binômio desigual de excesso de trabalho e escassez de salário, a solidão das grandes cidades e todos os males incubados como transtorno obsessivo compulsivo, fobia social, depressão, bipolaridade e sabe-se lá o que mais. O resultado é uma explosão de empurrões, pontapés, xingamentos, caras fechadas. Ah, e isto inclui clientes e funcionários pois ao cair das máscaras, não se salva ninguém.

Incrível o que um carrinho de supermercado e uma lista de compras produzem no ser humano. Todo seu egoísmo e espírito selvagem vem a tona. Enquanto uma dona de casa xinga os produtores de tomate porque, desde que os nutricionistas descobriram suas propriedades rejuvenescedoras, o preço disparou no mercado, outra empurra o carrinho em cima da demonstradora de uma barrinha de cereais. Lágrimas vem nos olhos da garota mas disseram a ela que "o freguês sempre tem razão" e ela apenas agüenta a dor – pior é a humilhação – calada. Pois é, ninguém pede licença para atropelar ninguém com o carrinho e quando são as promotoras que oferecem provas de salgadinho, folhetos com receita ou anunciam promoções de uma marca de shampoo. "Ninguém imagina o que eu passo aqui, desabafa a menina atropelada a única cliente que para pra perguntar se ela teve alguma coisa". Pior é a humilhação.

Nos horários de pique, o espetáculo é ainda mais deprimente e lembra velhas brigas entre as tribos primitivas. Salve-se quem puder. Empurra daqui, empurra de lá e ainda usam-se velhinhas para garantir prioridade na fila por causa da idade (delas) embora quem pague a conta, muitas vezes, tenha menos de 40 anos. É uma luta de vale tudo. Caixas fazem cera esperando a hora de ir embora. As filas adentram os corredores e clientes que passam se embolam com clientes que estão na fila em uma batalha verbal de baixíssimo calão onde nem a mãe é poupada. Se alguém abre a boca e reclama, olhares furiosos lhe fuzilam e o fiscal dispara condenando: "o senhor foi o único que reclamou". Reclamar, nos supermercados, dá em nada. Essas lojas, que estão cada vez mais self-service desde que metade dos empacotadores foram dispensados para "contenção de despesas", ignoram os direitos humanos.

Um deles, o direito de transitar em locais públicos. Que público? Um nome impresso nos saquinhos plásticos, anuncio em rádios internos lembram que aquilo lá é mais particular do que condomínio de luxo e mais: piquetes deixam de fora os pivetes e pedintes. De vez em quando um deles fura o cerco mas o segurança "aconselha" a deixar o recinto. E alguém que pode ser a mesma pessoa que envia e chora ao ler "lindas mensagens formatadas" na Internet comenta com rispidez: "ainda bem que espantaram os pivetes". Nem tanto. Eles ainda se prostam nos locais de acesso num corredor polonês constrangedor. Ou você dá ou quem sabe até morre. Mas você não tem para dar, poderia estar ali engrossando a fileira de pedintes se golpes de sorte não lhe ajudassem.

Guerra é guerra. A mídia sempre falou em guerra de preços, na época do Plano Cruzado, donas de casa enfurecidas destilaram toda sua intolerância – ou seria vontade de aparecer? – contra gerentes de supermercados por aumento de preço ou sonegação de mercadoria. Mas, os donos das lojas assistem a tudo convenientemente de longe. Alguns freqüentam colunas sociais e revistas de fofoca. Outros não fazem questão disso. Poucos devem saber o que se passa lá dentro. A imprensa pouco noticia porque sua presença não é lá muito bem vinda. Estudos científicos? Bom, os esquimós devem ter mais a oferecer sobretudo no calor dos iglus porque todo mundo pesquisa esquimós e nem a metrologia vai ao supermercado conferir que os produtos em oferta estão com sua data de validade praticamente vencida. Só que os supermercados são um prato cheio para os humanistas justamente por sua falta de humanidade. Nos corredores entupidos de carrinhos, nas filas gigantescas e nos estacionamentos onde cada cliente quer mostrar que Airton Senna não morreu transitando em velocidade elevada e se lixando para quem está a pé buscando seu carro ou indo para a loja vê-se o quão selvagem é o ser humano. Mas fale disso com eles e...

Por uma programação com mais desenhos

 

Fatima Dannemann

 

        Uma sugestão: se a teledramaturgia anda numa crise de criatividade porque não suprimir um dos intermináveis horários de novelas e colocar desenhos animados? Aposta-se que uma legião de criancinhas e adultos que não tem medo de ser felizes vão aplaudir a decisão de pé. Hoje, quem estuda ou trabalha de tarde ainda assiste os desenhos, mas quem estuda de manhã e só tem a tarde livre fica condenado aos vale a pena ver de novo, programas religiosos, aulas de culinária ao vivo, games manjados e filmes de cachorro. Desenhos, só de manhã. Pelo menos na maioria das emissoras de canal aberto já que entre as TVs a cabo e por assinatura existem várias com desenhos animados.

        Bons títulos em desenhos não faltam. Aliás, se há mesmice nas novelas, filmes e games e outros programas, os desenhos esbanjam criatividade e piadas ótimas. Bem que poderiam subsituir uma das novelas, de preferência a do horário das sete, por desenhos como Bob Esponja, Pumba e Timão, Coragem o cão covarde, A robô adolescente só para citar alguns dos darlings da temporada. Todos ótimos e engraçados, sem saudosismos, nem citando que Zé Colméia, Dom Pixote e Manda Chuva eram melhores. Podiam até ser. Mas não tem quem não ria com as maluquices de Timão e Pumba ou com as burrices de Bob Esponja e Patrick e isso, no horário nobre, seria um bom relaxamento para antes ou depois do misere do noticiário.

         Claro que, mesmo entre desenhos, as emissoras de TV abertas cometem alguns equívocos. A Globo caiu na asneira de tirar da programação alguns de seus melhores desenhos como A Pequena Sereia e Sakura Card Captor. No lugar, colocou alguns títulos de gosto duvidoso entre os quais o insuportável Jackie Shan. Outro equívoco, este da maioria dos canais de TV abertos, é o horário. De tarde, raramente passa algum desenho. A não ser, claro, na sessão da tarde, e mesmo asism reprise-da-reprise-da-reprise ou seja, mais velho do que a sé de Braga, como diriam os antigos.

          Melhor mesmo é quem tem TV por assinatura. Basta sintonizar o Cartoonnetwork, o Nickelodeon e pronto, tem-se desenhos ótimos 24h por dia – ou quase isso. Títulos como A Vaca e o Frango, O Laboratório de Dexter, Pink e Cérebro, as Meninas Super Poderosas, Rugrats se tornaram sucesso mesmo longe do "povão". Os desenhos animados, ao contrário de outros programas, correm por fora do esquemão "faz-cabeça-do-povo". Não adianta anunciar, berrar que é sensacional. É a conversa entre as crianças que elege os preferidos da temporada (e muitos deles correm longe da Globo). A "rainha" dos baixinhos, por exemplo, vem perdendo a majestade (pelo menos entre as crianças de senso crítico mais apurado).

          O raciocinio das emissoras de TV aberto quanto a programação infantil é esquisito. Quem estuda de manhã, fica sem ter o que ver, de tarde. O resultado é que os desenhos animados ficam relegados a salas de espera de hospital onde as pessoas ou estão se estrebuchando de dor ou preocupados com resultados de exame e nem notam que tem uma televisão ligada, invariavelmente quase no teto (obrigando a pessoa a uma posição incomoda em cadeiras desconfortável e em salas sem janelas onde nunca se sabe que horas são). Pior é que se você ri das trapalhadas do Pumba num consultório médico, as outras pessoas lhe fuzilam com os olhos como quem diz "o consultorio do psiquiatra é no outro andar". Azar o delas pois rir só faz bem, embora consultórios e salas de espera não precisem de televisão e sim que os médicos sejam pontuais e tenham mais consideração com os pacientes.