Thursday, September 04, 2008

Por uma programação com mais desenhos

 

Fatima Dannemann

 

        Uma sugestão: se a teledramaturgia anda numa crise de criatividade porque não suprimir um dos intermináveis horários de novelas e colocar desenhos animados? Aposta-se que uma legião de criancinhas e adultos que não tem medo de ser felizes vão aplaudir a decisão de pé. Hoje, quem estuda ou trabalha de tarde ainda assiste os desenhos, mas quem estuda de manhã e só tem a tarde livre fica condenado aos vale a pena ver de novo, programas religiosos, aulas de culinária ao vivo, games manjados e filmes de cachorro. Desenhos, só de manhã. Pelo menos na maioria das emissoras de canal aberto já que entre as TVs a cabo e por assinatura existem várias com desenhos animados.

        Bons títulos em desenhos não faltam. Aliás, se há mesmice nas novelas, filmes e games e outros programas, os desenhos esbanjam criatividade e piadas ótimas. Bem que poderiam subsituir uma das novelas, de preferência a do horário das sete, por desenhos como Bob Esponja, Pumba e Timão, Coragem o cão covarde, A robô adolescente só para citar alguns dos darlings da temporada. Todos ótimos e engraçados, sem saudosismos, nem citando que Zé Colméia, Dom Pixote e Manda Chuva eram melhores. Podiam até ser. Mas não tem quem não ria com as maluquices de Timão e Pumba ou com as burrices de Bob Esponja e Patrick e isso, no horário nobre, seria um bom relaxamento para antes ou depois do misere do noticiário.

         Claro que, mesmo entre desenhos, as emissoras de TV abertas cometem alguns equívocos. A Globo caiu na asneira de tirar da programação alguns de seus melhores desenhos como A Pequena Sereia e Sakura Card Captor. No lugar, colocou alguns títulos de gosto duvidoso entre os quais o insuportável Jackie Shan. Outro equívoco, este da maioria dos canais de TV abertos, é o horário. De tarde, raramente passa algum desenho. A não ser, claro, na sessão da tarde, e mesmo asism reprise-da-reprise-da-reprise ou seja, mais velho do que a sé de Braga, como diriam os antigos.

          Melhor mesmo é quem tem TV por assinatura. Basta sintonizar o Cartoonnetwork, o Nickelodeon e pronto, tem-se desenhos ótimos 24h por dia – ou quase isso. Títulos como A Vaca e o Frango, O Laboratório de Dexter, Pink e Cérebro, as Meninas Super Poderosas, Rugrats se tornaram sucesso mesmo longe do "povão". Os desenhos animados, ao contrário de outros programas, correm por fora do esquemão "faz-cabeça-do-povo". Não adianta anunciar, berrar que é sensacional. É a conversa entre as crianças que elege os preferidos da temporada (e muitos deles correm longe da Globo). A "rainha" dos baixinhos, por exemplo, vem perdendo a majestade (pelo menos entre as crianças de senso crítico mais apurado).

          O raciocinio das emissoras de TV aberto quanto a programação infantil é esquisito. Quem estuda de manhã, fica sem ter o que ver, de tarde. O resultado é que os desenhos animados ficam relegados a salas de espera de hospital onde as pessoas ou estão se estrebuchando de dor ou preocupados com resultados de exame e nem notam que tem uma televisão ligada, invariavelmente quase no teto (obrigando a pessoa a uma posição incomoda em cadeiras desconfortável e em salas sem janelas onde nunca se sabe que horas são). Pior é que se você ri das trapalhadas do Pumba num consultório médico, as outras pessoas lhe fuzilam com os olhos como quem diz "o consultorio do psiquiatra é no outro andar". Azar o delas pois rir só faz bem, embora consultórios e salas de espera não precisem de televisão e sim que os médicos sejam pontuais e tenham mais consideração com os pacientes.

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