Sunday, April 22, 2018

CRONICA SOBRE PERDAS

A irmã de Laura morreu. Laura trabalhou aqui em casa por mais de 30 anos entre idas, vindas, férias, gravidez, licenças e outros perrengues. No sábado, a irmã dela, Celia, que tambem trabalhou aqui em casa, faleceu. Celia e Laura são duas negonas bonitas. Quando elas eram jovens eu brincava dizendo que ia inscreve-las no concurso Beleza Negra do Ilê Ayiê. Célia pegou uma doença (ninguem me explicou direito o que foi), se internou no Couto Maia e de lá foi... direto para a Baixa de Quintas. Laura sofreu muito. Geraldo, filho de Laura, que trabalha aqui no prédio, ficou tão abalado que não conseguiu vir trabalhar.
E eu penso em minhas próprias perdas. Como fiquei abalada quando meu tio Zé Goes morreu no ano passado, a dor melhorou quando achei uma foto dele comigo bebê e coloquei aqui as minhas vistas. E olhe que eu sei que a vida continua, que existe reencarnação, imortalidade, leis universais que vão alem de todas as fisicas e que ninguem muda. Mesmo assim é a questão da perda. Talvez sintamos tanto a dor da perda, da morte de alguem, não é nem pela falta ou pelo apego, é que somos parte da mesma humanidade e acho que quando perdemos alguem ou quando alguem perde um ente querido é como se arrancasse um pedaço de nossa própria humanidade.
Não sei. Acredito em reencarnação, imortalidade, mediunidade e todas as outras leis. Mas penso em que não acredita ou não aceita. Deve ser mais dificil e isso me faz sentir a dor deles tambem. Claro, um dia isso passa, um dia quem se foi acaba esquecido num album de fotos que raramente alguem abre, ou numa sepultura que muitas vezes acaba diilapidada porque insistem em construir cemitérios perto de favelas (ou vice versa, vá entender); Acho que foi Elizabeth Kubler Ross que falou que a unica coisa certa na vida é aquela que o homem nunca se prepara: a morte.
Não penso muito no assunto, confesso, embora já tenha feito um rascunho de meu testamento na minha cabeça, e pensado numa playlist para o meu velorio.Com musicas animadas, claro, pois detesto "mementos". Mas a cronica é sobre perdas. E perder não é só ver alguem morrer, Inclui outras vertentes. Algumas fazem chorar, outras levam ao desespero. Todas fazem questionar "o que será o amanhã?"
Quem tem forças pra lutar, corre atrás, dá a volta por cima. Quem não tem acaba buscando outras saidas. As mulheres são sobretudo fortes, principalmente mulheres que são pais e mães para seus filhos e que nem tem tempo de pensar em suas próprias dores. Minha mãe sempre foi assim, como a mãe dela antes. Como Laura, sobrevivente de uma familia de muitos irmãos. Em nome da luta da vida, ela será capaz de dar a volta por cima.
#365cronicasbymfd #cronicasbyFatima

Maria de Fatima Dannemann jornalista que reza pela paz na siria

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