Friday, July 21, 2006

Não aceite imitações, exija um jornalista.

Fatima Dannemann


Até que enfim, luz no fim do túnel para minha profissão. A Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, está lutando para aprovar a lei que regulamentará definitivamente a profissão. Assim, não só as funções clássicas de repórter, editor, diagramador, fotógrafo como também de professor de jornalismo e assessor de imprensa deverão ser atribuições exclusivas dos jornalistas formados em jornalismo e com registro profissional. Claro que isso ainda não “limpa” a categoria, gente que tem direito adquirido continuará exercendo a profissão. Mas, com a aprovação da lei, somente quem for formado em comunicação com habilitação para jornalismo poderá trabalhar na área. Já era tempo. Ainda assim, a categoria conta com o pior de todas as oposições: os patrões. Os grupos empresariais de comunicação estão querendo fazer a cabeça do povo dizendo que isto é “volta da censura”. Muito pelo contrário. Agora é que a liberdade de imprensa fica garantida e mais teremos um jornalismo de melhor qualidade exercido e praticado por pessoas habilitadas.
É apenas um pequeno passo, mas já é uma grande conquista. Eu via meninos e meninas em 9 ou 10 faculdades de jornalismo existentes aqui em Salvador se formarem sem grandes perspectivas profissionais. Se a lei for aprovada, como eu tenho certeza que será, eles já podem fazer planos, pois nas redações e nas salas de aula, somente jornalistas. E nada demais: eu não faço exames se não for com médico (ajudante ou técnico nem pensar); para dietas alimentares, só nutricionista; terapia só com psicólogo formado; e mais, deixei a yoga porque a professora tem formação em yoga, mas não é formada em educação física e garanto que um profissional habilitado em qualquer área faz a diferença. Ah, esqueci de fisioterapia. Os fisioterapeutas lutam para deixar de serem subordinados aos médicos que insistem em querer saber mais sobre fisioterapia do que quem estudou quatro ou cinco anos para isso.
Os profissionais de educação física se mobilizaram, criaram o conselho da classe e com isso as academias de ginástica, clubes, etc, vêm se moralizando. Meio que por força da lei, mas se moralizam. Quem não se enquadrou, dançou e assim academias famosas da cidade simplesmente fecharam as portas, mas professor leigo – graças a deus para quem vai se ver livre do risco de lesões graves e sem cura – nunca mais. Agora, no mínimo os técnicos e professores estão estudando educação física ou dança. Isso garante que as academias e clubes de boa qualidade fervilhem de alunos e todos façam as aulas e saiam felizes e satisfeitos sem risco de ficar com problemas na coluna ou com o joelho “bichado” por exercícios mal ministrados.
Pois com jornalistas formados, a coisa será a mesma – não entro aqui no mérito da seriedade profissional, pois em todas as áreas, até na medicina, existem descarados e picaretas que estão se lixando para a honestidade ou para a qualidade dos serviços prestados. Gente que sabe que o jornalista tem que formar a opinião deixando que o leitor pense e tire suas conclusões e não induzindo o cara a pensar de tal e tal forma (como as TVs fazem). Ver peruas ou garotinhos dando uma de “repórter” é coisa que as TVs terão que repensar. Entrevistadores como Faustão, que interrompe os entrevistados, botam palavras não ditas na boca de seus convidados, ou ele mesmo responde a perguntas não feitas numa total falta de profissionalismo e ética, terão seus dias contados.
Já era tempo. Poucos se tocam, mas jornalismo é uma das profissões mais antigas que existem. Se formos analisar, vêm desde os tempos dos contadores de histórias, das actas diurnas de Julio César, dos escribas egípcios, dos menestréis medievais, e muitas outras coisas. Importante e indispensável não só para saciar a eterna curiosidade do ser humano, como para informar sobre o que acontece ao seu redor – ninguém é uma ilha. É uma ciência irmã da história (sim jornalismo é ciência) e uma arte irmã da poesia (sim é uma arte também) pois bebem da mesma fonte: a vida e o dia a dia. Pois está na hora de quem precisa de jornalista exigir um jornalista formado. Como diria a propaganda: recuse imitações. Um jornalista formado faz a diferença.