Sunday, May 25, 2008



Tudo sobre novelas

Fatima Dannemann

Mesmo que uns critiquem, as telenovelas viraram mania nacional a tal ponto que são assuntos de livro. O mais novo deles foi lançado este ano pelo analista de sistemas catarinense radicado em São Paulo, Nilson Xavier. Desde pequeno ele coleciona curiosidades sobre novelas e no ano 2000 criou o site teledramaturgia.com que cresceu tanto que seus visitantes começaram a cobrar um livro sobre o assunto. Ele produziu Almanaque da Telenovela Brasileira, que foi lançado pela Panda Books e virou destaque nas livrarias do país, e reúne histórias, curiosidades e muitas fotos sobre novelas de todos os tempos desde os anos 60 quando foi lançada 24499, ocupado, a primeira novela diária do pais..

Pudera. Até quem nunca viu novela e vira a cara para este assunto não pode negar que essa mania nacional já virou assunto de pesquisas acadêmicas e não só livros de lazer como alguns mais “sérios” resultantes de pesquisas acadêmicas, sem falar inúmeras biografias e memórias de artistas, diretores e gente de televisão onde as novelas fazem parte do enredo. O livro de Nilson é mais “relax” do que alguns outros que relatam desde a primeira novela brasileira, Sua Vida me pertence, dos anos 50, exibida apenas duas vezes por semana. E o grande trunfo é o visual. Além das fotos e reproduções de cartazes, discos e capas de revistas, tem infográficos, listas e quis. Ou seja, um livro para ler numa sentada, quem sabe até num avião, durante um vôo doméstico mais longo.

A pesquisa realizada por Nilson Xavier é primorosa. Ele fez, por exemplo, uma lista dos sósias e gêmeos de novelas desde Alma Cigana (e outras mais antigas), passando por Luana Câmara e Priscila Caprice de Sétimo Sentido até chegar em Paula e Tais de Paraíso Tropical, sem esquecer as inesquecíveis Ruth e Raquel das duas versões de Mulheres de Areia, talvez o par de gêmeas mais famoso de toda a teledramaturgia brasileira, interpretado da primeira vez por Eva Wilma e da segunda por Gloria Pires (magistralmente, aliás).

Um capítulo interessante do livro é o que o autor lembra antigos mistérios como quem matou Salomão Hayala em O Astro, quem eram vítima e assassino em O Rebu (uma das mais criativas telenovelas brasileiras, mas uma das menos compreendidas, também) e outros mistérios como quem era o Leão em Deus nos Acuda, ou quem explodiu o shopping center de Torre de Babel. Ele também conta a respeito de mortes reais enquanto as novelas estavam sendo gravadas, como a do ator Jardel Filho enquanto a Globo exibia Sol de Verão, nos anos 80, ou, mais recente, a da atriz Daniela Perez, assassinada pelo colega Guilherme de Pádua, ambos do elenco de De Corpo e Alma.

O livro está longe de ser aleatório. Nilson apresenta o resultado de uma ampla pesquisa em que não falta bibliografia. Entre os livros consultados, aliás, está um dos mais famosos exemplares sobre o assunto até então: Memória da Telenovela Brasileira de Ismael Fernandes, em que titulo, elenco, sinopse e um breve comentário de todas as novelas exibidas desde 24599 ocupado, estão listados. Sendo a edição mais recente de 1997. O livro de Nilson ganha pontos extras por causa das imagens e fotos, mas o livro de Ismael é uma fonte valiosa de pesquisa ainda mais nos tempos em que as TVs, talvez numa crise de criatividade, resolvem apelar para remakes e continuações como a Globo está fazendo com Ciranda de Pedra e a Record com Caminhos do Coração. Nos livros, talvez o espectador descubra como fazem falta autores como Janete Clair, Ivani Ribeiro, Dias Gomes ou Cassiano Gabus Mendes. Mas isso é outra história.

Serviço

Titulo: Almanaque da Telenovela Brasileira
Autor: Nilson Xavier
Editora: Panda Books
Preço: em torno de R$50,00

Sunday, May 18, 2008



Como se pessoas fossem borboletas: e “O Colecionador” faz história

Fatima Dannemann

As vezes, a ficção pula para a realidade e de forma cruel. Não são os sonhos que se concretizam mas os pesadelos, toda a bizarrice que o ser humano sufoca. Assim, em meio a um ano negro numa década de surpresas desagradáveis, o mundo acorda perplexo com a noticia de um pai que manteve a filha 24 anos presa num porão. Isso aconteceu de verdade, na Áustria, mas uma história parecida fez furor nos anos 60, o romance O Colecionador, de John Fowles, transformado em filme pelas mãos de um dos mais festejados diretores hollywoodianos, William Wyler, com um darling da época, Terence Stamp, no papel principal.

O livro – nem tente encontrar em nenhuma livraria, a única edição recente é de uma coleção vendida nas bancas nos anos 80 e você terá sorte se achar algum exemplar em algum sebo – é neurótico, cruel, bizarro, mas é o tipo da leitura que prende atenção do primeiro ao último capítulo. O leitor acompanha toda a frieza psicótica de Freddy, um colecionador de borboletas apaixonado por Miranda – não é assim que ela se chama, mas é assim que ela é chamada por ele – ao preparar o porão de sua casa para aprisioná-la tudo porque ela nunca correspondeu a seu “amor”, mas acompanha também todo o sofrimento de Miranda ao descrever minunciosamente cada dia no cativeiro.

Se em livro, temas como seqüestro, cárcere privado, tortura psicológica, já causam espécie, ao vivo e a cores, esses fatos chocam. Amstettel, na Áustria, deixou o mundo assustado. Durante 24 anos, o engenheiro Josef Fritzl abusou sexualmente e manteve presa no porão de casa sua filha Elisabeth e três dos sete filhos que teve com ela. Os outros quatro, um morreu ao nascer e foi incinerado pelo pai no sistema de aquecimento da casa. Os outros três foram adotados pelo engenheiro e sua esposa. Foi preciso sua filha-neta Kerstin adoecer gravemente e precisar de hospital para que os crimes de Fritzl viessem a tona. Pelo menos, Elizabeth, seus sete filhos-irmãos e sua mãe tiveram final mais feliz que a Miranda do livro de Fowles que morre antes de ser libertada.

Não foi a primeira vez que a Áustria viveu um problema deste tipo. Natascha Kampush levou oito anos presa num cativeiro nos arredores de Viena e há dois anos conseguiu fugir. Mas, o criminoso não era seu pai. Pelo menos. Porque o que se vê nas páginas de jornais brasileiros são pais e mães aprisionando os filhos muitas vezes porque eles comeram fora de hora ou bateram nos filhos do vizinho. Revistas noticiaram recentemente o caso de um rapaz trancafiado por 15 anos em Goiás por sofrer de problemas mentais. Para a mãe, pobre e quase analfabeta, esse seria o único jeito de controlar os transtornos do menino que se tornou obeso, arredio, com problemas renais. Segundo declarações da mãe da criança: ou ela prendia o filho numa cela em sua própria casa ou teria que interná-lo num hospital, o que ela achava mais cruel.

Na ficção, pelo menos em novelas, cárceres privados têm sido vistos não só em cenas de seqüestros. Muitos deles por motivos fúteis como o que aconteceu com Petrus, na novela Duas Caras, seqüestrado por Waterloo, capanga de Marconi Ferraço por vingança amorosa: Andréia, irmã de Bijuzinha, namorada de Petrus, dá a entender ao capanga que o menino era namorado dela. Waterloo não gosta e seqüestra o garoto só para fazer ameaças e pressioná-lo a deixar de se relacionar com as moças.

Outras vezes, pessoas viram borboletas na mão de maridos que se sentem desprezados como o Freddy (chamado de Caliban por “Miranda”, numa referencia aos personagens da peça de Shakespeare A Tempestade) e a Globo vem repetindo a fórmula como se esse circo dos horrores fosse o supra-sumo da teledramaturgia. Aconteceu em Desejo Proibido, onde “Miranda” era Ana, o carcereiro seu ex-marido e o porão uma caverna junto a gruta da Virgem de Pedra. Agora se repete em Ciranda de Pedra, onde Daniel Dantas é o marido cruel que tranca a esposa doente (Ana Paula Arósio) num sótão alegando que ela está sofrendo de problemas mentais. Seja como for, pessoas não são borboletas, a prova é o que vem acontecendo com Elizabeth e seus filhos que após saírem do porão estão sendo tratados não só por causa de problemas de saúde física como por conta de todos os traumas psicológicos sofridos.

Quanto ao livro de John Fowles, O Colecionador é um livro que arrebata e prende atenção, daqueles exemplos em que você lê uma vez e é capaz até de lembrar as palavras, anos e anos depois de ter lido. O filme, hoje cult, causou furor em 1965 com as interpretações de Terence Stamp – por onde anda ele – e Samanta Eggar no papel de Miranda. Pode ser que em alguma locadora seja encontrada a versão em DVD. Mesmo com todo horror que seqüestro e prisão particular provoquem na vida real, o filme e/ou o livro valem a pena como forma de podermos dimensionar o horror que Miranda deve ter sofrido. Ou as borboletas que muitos insistem em colecionar mantendo-as trancafiadas em frascos de vidro.



Fatima Dannemann – DRT-Ba 786

Sunday, May 11, 2008



Tragam o sonho de volta…

Fatima Dannemann

- É fim de mundo… Arthur é quem diz isso num e-mail. Colega, nem tão velho, nem mais velho do que eu, ele traduz o que eu venho sentindo há algum tempo: é fim de mundo e enganaram todo mundo. Não há sonhos, nem era de aquárius, nem new-age, nem era de paz. Paz? Que paz? Um pai e uma madrasta matam a filha. Outro trancafia a filha 24 anos para abusar sexualmente dela. Um doido quer implodir o Cristo Redentor. Ah… Onde está a era de sonho que tanta gente pregou?

Pois é… Nem meditar adianta: o Tibet virou uma praça de guerra. O espírito esportivo foi queimado na tocha da vaidade e das diferenças. As Olimpiadas de Pequim viraram motivos de discórdia. Acho que a pomba da paz pegou o ônibus espacial e foi voar em outra galáxia pois com certeza se jupter se alinhou com marte não foi com a lua na sétima casa. Ou então, movimentos astrais também dão zebra. Paz? Nem na música de Gilberto Gil que, aliás, depois que virou ministro anda cantando cada vez menos.

Gente, tragam o sonho de volta. Por onde olho, vejo pessoas ressentidas, deprimidas, rancorosas. As tensões ganharam do ar mais despojado: tudo vira motivo de briga. Tudo é disputa. O ser humano resolveu levar o ego as últimas consequencias. “Meu celular, meu computador, meu carro, minha auto-estima.” Aparências, simbolos, padrões, uma série de medidas a serem seguidas: indices de massa corporal, altura, peso, cintura. Ficou feio ter perna grossa, cabelo cheio ou cacheado. É o padrão. Que padrão?

Já não se sonha mais. Sonhos são contra regras do empreendedorismo, não se estudam em cursos de MBA, já não são sequer temas de música. A regra é ter o pé no chão, saber calcular custos-beneficios. “Não viaje”… É só o que se ouve por ai. Ninguem manda mais postais, ninguem manda mais recados: envia e-mail, deixa recado no orkut. É assim. Todo mundo faz assim. “hum? não acredito, você não tem celular?” isso é quase ser de outro planeta.

Precisamos do sonho de volta. A vida anda chata. Coisas estranhas acontecem. Precisamos do direito de comer pipoca na rua, ou até cachorro quente, sem preocuparmos com o tanto de calorias, gorduras trans… Ah, se foi o tempo em que ninguem se baseava tanto em pesquisas feitas em esquimós até porque as roupas P, M, G eram P, M, G - hoje tem todas o mesmo tamanho e só estarão na moda se pintarem na tela da Globo.

Com certeza é fim de mundo. Enlataram o ser humano num circo dos horrores em que pai mata filho, madrastas se mostram más como a bruxa da maçã, não é preciso ter uma boa formação escolar: qualquer pessoa pode ter diploma de graduação, pós, mba. Mas o ser humano não é leão pra ficar em jaula, nem sardinha para ficar em lata. E sonhar? Está ai uma coisa que ninguem proibe ou aprisiona. Quem sabe, e o velho sonho da música do velho grupo The Mamas and Papas volte as paradas. Quem sabe…

Friday, May 09, 2008



Por dentro da grande mesquita - ou quase…

Não dá para entrar na grande mesquita de Kaiouran, Tunisia, que, dizem, é o lugar mais sagrado do mundo Islâmico no Norte da Africa e teria sido fundado pelo próprio Mahome.

Mas dá para ver como é. Simples. Despojado.

Para nós, ocidentais, é impossivel entrar lá porque somos considerados “infieis”. E mesmo os mulçumanos precisam passar por alguns rituais e preparativos antes de adentrar o recinto.

Mas vale a experiencia. A energia sagrada é forte. Dá para sentir que os mulçumanos são do bem… Ah, e existem terroristas cristãos, sim. Só que a mídia não divulga.