Thursday, July 10, 2008

comentário - Guerra de Baixarias

 

Guerra de Baixarias

 

Fátima Dannemann

 

            Na busca pela audiência, as novelas têm apelado para todo tipo de baixaria. O pior deles é, e sempre será, embora consentida, a violência. Na recém-lançada Chamas da Vida (de segunda a sábado 21h na Record), já houve desmonte de carros roubados, incêndio criminoso, tentativa de estupro e exploração de crianças de rua entre outros crimes. Isto, nunca sociedade em que meninos como Isabella Nardoni e João Robertos são assassinados covardemente, é exagerado. Já existe até quem ache que falta Deus na sociedade cada vez mais materialista e à mercê de cenas de sangue e tiros até promovidas pela mídia em troca de "audiência".

              Houve um tempo – e recente, aliás – em que o que "chocava" eram cenas de sexo. Chocava e dava Ibope. Um exemplo disso está em reprise no SBT, a novela Pantanal, que deve muito do seu sucesso a cena de gente pelada transando nos rios do Mato Grosso. Mais do que as belezas exóticas dos rios, florestas e animais silvestres, o que chamava atenção eram as cenas de nudez pra lá de calientes entre Juma e Jove e Tadeu e Muda, que podem ser vistas agora por volta das 10 horas numa reprise "não autorizada" pelos "donos" da novela mas que Silvio Santos resolveu arriscar e exibir. Banalizaram o sexo e a violência começou a dominar em todos os horários e quando já se achava que a bazuca de Juvenal Antena ou a guerra dos mutantes de Caminhos do Coração eram o ponto alto, começa A Favorita e Chamas da Vida trazendo ainda mais baixarias para o horário nobre.

              Não se sabe porque, mas caíram de moda novelas bem humoradas como Tieta, Pedra sobre Pedra, A Indomada em que o interior do Brasil era mostrado em situações engraçadas e que, mesmo havendo violência, as cenas mais "fortes" eram amenizadas de alguma maneira. Hoje, acha-se que as novelas (obras de ficção e que, portanto, podem ser inventadas como pura fantasia sem compromisso em retratar nada, muito menos refletir, justamente os piores males da sociedade como corrupção, falsidade, violência e outros crimes) têm que ter "compromisso social".

              Se por um lado elas até fazem um favor a sociedade quando mostram questões como síndrome de down (em Paginas da Vida), crianças roubadas na maternidade, gravidez na adolescência, casamentos interraciais, crescimento de religiões evangélicas, trafico de mulheres e outros problemas, elas exageram e em vez de denunciar acabam enaltecendo outros problemas. Assim, cresce a AIDS em mulheres jovens, cresce o número de vítimas de distúrbios alimentares (claro... para participar de algumas novelas da Globo as artistas se submetem a cirurgias plásticas delicadas e desnecessárias), ninguém mais se aceita ao olhar no espelho, sem falar na verdadeira aula de crimes e falcatruas que bandidos e aspirantes a delinquentes ensinam em tramas desde Malhação (Globo, 17h)  até Amor e Intrigas (Record, 22h)  onde, nos últimos capítulos, um casal de bandidos só conversam sobre o planejamento do sequestro de um ex-namorado rico da vilã

               Realmente, não dá. De um lado, Malhação, Ciranda de Pedra, Beleza Pura e A Favorita, em outro Os Mutantes, Chamas da Vida e Amor e Intrigas que, mesmo com todas as cenas de tentativa de assassinato, assaltos e seqüestros acabou sendo a mais "leve" das três novelas da Record. De quebra, as criancinhas exploradas em Chiquititas e o sexismo de Pantanal. Isso desmente a velha idéia de que são os desenhos animados e vídeo-games que disseminam a violência no mundo. Já chega o noticiário. Ninguém precisa ter indisgestão ao ver tanta baixaria na TV e o pior que o povão não tem acesso a outras diversões por falta de grana. E notem que eu nem falei no desempenho de certas "estrelas" como Débora Secco, fazendo mais uma alpinista social em A Favorita, ou Isis Valverde, que já está exagerada no papel da morena-burra Rakelli em Beleza Pura.

 

 

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