Monday, June 02, 2008



Santa Gioconda do Chega salva novela

Fatima Dannemann

Hoje, Marilia Pera deve dormir feliz. Com o final de Duas Caras, ontem, ela não só confirma seu status de uma das melhores atrizes brasileiras, como vê sua Gioconda, rica, chiquérrima, politicamente correta salvar a novela. Sim, salvar. Em um monte de clichês e equívocos, Marilia foi um destaque absoluto e conseguiu elevar sua personagem de mera coadjuvante a uma protagonista por direito. A isso, atribuem-se dois fatores: competência e experiência. Coisas que Marjorie Estiano e Debora Falabela poderão vir a ter daqui a muitos anos. Ou não.

Sem cast - outras emissoras roubaram faces carimbadas nas novelas - a Globo investe em caras novas. O resultado as vezes é desastroso e no caso da novela de Duas Caras apenas morno. Débora Falabela não convenceu como a rebelde sem causa que desafiou a familia, casou com um pobre e foi morar na favela. Virou uma dona de casa de classe média se divindindo entre familia e profissão. Sem nada demais. Marjorie Estiano foi anunciada como a atriz principal mas… Que protagonista é essa que passava dias sem aparecer e não fazia falta?

Marilia brilhou. De perua viciada em comprimidos e calmantes dos primeiros capítulos, virou uma pessoa indignada com a violência, contra os problemas socio-economicos. O discurso no dia da batalha de Juvenal Antena contra o traficante de outra favela comoveu. A atriz aproveitou a ficção e mostrou verdade sobre um dos piores problemas da sociedade brasileira hoje, a violência.

Ainda bem. Não fosse Marilia Pera, teríamos uma vilâ cheia de botox e caretas transformada de menina doce e equilibrada dos primeiros dias de novela, numa assassina, ninfomaníaca e detraquê dos ultimos capitulos. Se não fosse Gioconda mostrando que os ricos - que detem boa parte do PIB brasileiro - sofrem problemas graves, teriamos apenas uma favela fake, com um chefão achando que era rei, sentando em trono, extorquindo comerciantes, mantendo reféns em carcere privado e trocando favores com delegados. Pior: Juvenal Antena acabou ileso e impune. Como se fosse um santo. Evilásio, eleito com as bençãos do padrinho (seria referencia ao filme The Godfather, conhecido entre nós como O poderoso chefão?), quietinho como se assinasse embaixo tudo o que acontecia na Portelinha.

Pior cena foi Célia Mara e Branca - antigamente conhecidas pelos nomes de Nazaré Tedesco e Maria do Carmo Ferreira, inimigas mortais - terminarem a história como amigas de infancia. Ou, Maria Paula fazendo exatamente o que Ferraço fez: roubado tudo e fugido. Ah, e Marconi Ferraço, único vilão que se arrependeu e se redimiu, foi o único que foi punido. Enquanto que Bia Falcão, ops, Silvia foi vista em Paris com marido e amante.

Agnaldo Silva, autor, entre outras novelas de Tieta, Fera Ferida e Senhora do Destino. Deve uma história melhor. Duas Caras? Apenas mais uma novela. Mesmo com Marilia Pera.

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